Regina Rheda, literatura e veganismo

João é brasileiro, Juan é mexicano. Os dois vivem nos Estados Unidos apesar de não terem autorização para residir ou trabalhar no país. A aposta em um futuro melhor uniu-os na condução de serviços de manutenção em uma fazenda que abriga animais abusados. Desafiados pela necessidade de lidar com uma língua estrangeira, com valores referentes à interação de animais humanos e não-humanos com os quais não estão familiarizados e, ainda, pela necessidade de confiar em conhecidos, dão vida ao conto “O santuário”, de Regina Rheda, para nos lembrar que gestos que acolhem podem abrir caminhos imprevistos, marcados, inclusive, por ganhos mútuos para os envolvidos.

“O santuário” faz parte da coletânea “Pátria estranha”, publicada em 2002 pela editora brasileira Nova Alexandria; do livro “First World Third Class and Other Tales of the Global Mix”, publicado pela University of Texas Press em 2005, que compilou vários textos de Rheda, vertidos para o inglês; e da antologia “Luso-American Literature: Writings by Portuguese-Speaking Authors in North America”, publicado em 2011 pela Rutgers University Press, também na versão em língua inglesa.

Rheda também ultrapassou as fronteiras brasileiras, tendo assumido um percurso que a levou de Santa Cruz do Rio Pardo (SP) à capital paulista, e daí à Flórida e à Califórnia, nos Estados Unidos. Formada em Cinema, trabalhou nesta área e com outros tipos de produção audiovisual até decidir enveredar pela literatura, onde teve uma estreia bem-sucedida, considerando-se que “Arca sem Noé: Histórias do Edifício Copan”, seu primeiro livro, foi agraciado com o Prêmio Jabuti – na categoria “Contos” – em 1994, além de ter sido objeto de uma segunda edição, publicada pela editora Record em 2010.

Atenta às técnicas que emprega na elaboração de seus textos literários, adepta do humor e da ironia, em particular, para a construção de efeitos de sentido, Rheda adicionou um ingrediente novo à sua escrita desde que passou a se identificar com o veganismo e com sua vertente abolicionista. Desde o começo deste século, a escritora tem trabalhado literariamente o tema dos direitos dos animais. Seu romance “Humana festa” (2018), por exemplo, é considerado pioneiro por tematizar o veganismo ao mesmo tempo em que alude a questões fundamentais, como o feminismo e a reforma agrária. Rheda também tem elaborado traduções autorizadas de textos de Gary Francione, professor da área de Direito que repudia a exploração de animais não-humanos por humanos. E assim contribui para a disseminação dessas ideias no espaço lusófono.

Interessados em ir além da leitura de “O santuário”, encontrarão online o conto “Falta d’água”, além de entrevistas interessantíssimas em que Rheda trata do fazer literário, de ativismo (1) e (2) e de sua relação com o Copan, onde morou. O burburinho resultante da recepção dos contos que têm o prédio como personagem pode ser acompanhado aqui e aqui. Já seus livros são mais facilmente encontrados em sebos ou em formato e-book.

À leitura!

Com Manu Chao, Calypso Rose, Shakira e Rihanna, humanidade e integração entram em perspectiva

Manu Chao é francês, filho de espanhóis que deixaram a própria terra para escapar dos tentáculos de um regime ditatorial. É compositor, um artista sensível a movimentos sociais e que acredita que as revoluções de que necessitamos surgem pequenas, desencadeando-se a partir de gestos que visam, em primeiro lugar, modificar seu próprio executor ou seu entorno. Gestos irmanados no cotidiano seriam, portanto, motores das transformações que sonhamos.

Assim, foi pensando em estender e em fortalecer a corrente formada por aqueles que se preocupam com os impactos das migrações pelo mundo que Chao lançou, ao longo de sua carreira, diferentes versões de sua música “Clandestino”, apresentada originalmente ao público 1998. Em sua versão mais recente, ela chega acrescida de versos em inglês, interpretados por Calypso Rose, reconhecida cantora e compositora de Trinidade e Tobago.

 Clandestino
 
Solo, voy con mi pena
Sola, va mi condena
Correr es mi destino
Por no llevar papel
 
Pa' una ciudad del norte
Yo me fui a trabajar
(Como una raya en el mar)
Mi vida la dejé
Entre Ceuta y Gibraltar
(Como una raya en el mar)
 
Solo, voy con mi pena
Sola, va mi condena
(Como una raya en el mar)
Correr es mi destino
Para burlar la ley
(Como una raya en el mar)
 
I cannot go forward
I cannot return
And the land in front don't want me
Look the land behind me burn
(Como una raya en el mar)
 
I am stranded on the sea
With an unknown destiny
(Como una raya en el mar)
No home to return to
Nobody waiting for me
(Como una raya en el mar)
 
Solo, voy con mi pena
Sola, va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
(Como una raya en el mar)
 
Perdido en el corazón
De la grande Babylon
(Como una raya en el mar)
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel
Lai-larai-la-lai-lai
Lai-larai-lai-lai
Lai-larai-la-lai-lai
Lai-larai-lai-lei
 
Prr
 
I cannot go forward
I cannot return
And the land in front don't want me
Look the land behind me burn
 
We are stranded on the sea
With my whole family
(Como una raya en el mar)
No home to return to
Nobody waiting for me
(Como una raya en el mar)
 
Solo, voy con mi pena
Sola, va mi condena
Correr es mi destino
Yo soy el quiebra ley
(Como una raya en el mar)
 
Oh my gosh (Lai-larai-la-lai-lai)
I am in pain (Lai-larai-lai-lai)
Prr (Lai-larai-la-lai-lai)
(Larai-larai-lai-lai)

A letra da música está disponível aqui e a música pode ser baixada gratuitamente do site de Manu Chao.

Esta música de Chao, que não pode ser mais atual, teve suas camadas de sentido sendo adensadas ao longo dos anos, inclusive pelo próprio compositor. Em 2011, Chao gravou um novo clip para ela depois de tomar conhecimento de uma prisão para imigrantes situada no Arizona, nos Estados Unidos. Restou ao compositor gravar seu vídeo em frente ao presídio, uma vez que o xerife que controlava o território onde ela estava situada não autorizou a filmagem das instalações. A despeito disso, a inserção no clip de um depoimento de um dos detidos no local contribuiu para nos dar a dimensão do sofrimento a que outros como ele, ali detidos, estavam sendo submetidos ao serem tratados como “terroristas”, e não como pessoas que migram buscando melhores condições de trabalho, para que possam sustentar suas famílias.

Em 2019, Lila Downs, uma cantora mexicana que assim como Chao, canta em várias línguas, juntou-se ao time daqueles que vêm contribuindo para a renovação de “Clandestino”. Sua versão traz visibilidade para as crianças que migram, algumas das quais sendo abusivamente presas em centros de detenção. A prática, comum nos Estados Unidos, nos faz refletir sobre o papel brutal de governos ditos democráticos, governos que hierarquizam pessoas e que, ao fazê-lo, privam tantos da possibilidade de se constituírem cidadãos em territórios que não aqueles de seu nascimento. Downs relaciona os milhares de crianças e de mulheres migrantes a nosso futuro, instando-nos a protegê-las, na medida em que são protagonistas de um movimento – o da imigração – que molda a história da humanidade desde sua origem.

Na sequência, Calypso Rose, com o engajamento que lhe é típico, direciona a visada de “Clandestino” para aqueles que singram mares de forma precária, deixando terras natais hostis para se depararem, não poucas vezes – se concluem a travessia – com a agressividade de quem ainda não aprendeu a lidar com a diversidade e a reconhecer o potencial alheio, moeda para o enriquecimento mútuo quando há encontro, ao invés de incompatibilidade de perspectivas e o sufocamento da alteridade.

“Clandestino” – Manu Chao & Calypso Rose (2019)

Ao recuperarmos a música de Chao, com as contribuições de Calypso e de Downs, torna-se inevitável trazer à mente tragédias que envolveram crianças. Há pouco, uma menina brasileira de 2 anos desapareceu em um rio localizado entre o México e o Estados Unidos enquanto sua mãe procurava cruzá-lo, mesmo rio em que, dias depois, veio a falecer uma menina salvadorenha, tão pequena quanto, acompanhada de seu pai, que procurava chegar aos Estados Unidos depois de semanas vivendo em abrigos no México. Esses eventos surgem como atualizações da morte do sírio Alyan Kurdi, de 3 anos, encontrado em uma praia da Turquia em 2015 depois que o barco em que sua família estava naufragou. Essas ocorrências escancaram o quanto há por ser feito para que as vidas de migrantes parem de ser tratadas como se fossem descartáveis.

Para a cantora e compositora colombiana Shakira, a imagem de Alyan Kurdi não pode ser ignorada ou esquecida, sendo de todos a responsabilidade de gerir uma crise humanitária que tem feito crianças “pagarem o preço da guerra”. A artista, que descende de libaneses e que mora na Espanha atualmente, é embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Para além da carreira no campo da música, ela se dedica à filantropia, dando atenção especial a projetos que procuram garantir o desenvolvimento integral de crianças, especialmente em seus primeiros anos de vida. A este compromisso se dedica a Fundación Pies Descalzos, ONG fundada pela cantora no final da década de 1990 e que oferece educação para crianças e jovens em Barranquilla, Cartagena e Quibdó, na Colômbia.

A preocupação com as condições de vida de migrantes não é a única característica que aproxima Shakira de Manu Chao. A colombiana também conta em seu repertório com uma música chamada Clandestino, embora a sua enfoque questões sentimentais. Além disso, a compositora, que é poliglota, também estabelece parcerias com artistas de outras nacionalidades, assim diversificando suas produções.

Se em Clandestino, a cantora fez um dueto com Maluma, que é colombiano, devemos lembrar que ela já uniu sua voz à de Rihanna, cantora nascida em Barbados. As duas cantaram e gravaram juntas o clip da música “Can’t remember to forget you”, que já alcançou quase 1 bilhão de visualizações no Youtube desde 2014.

Não nos parece equivocado pensar que o bom entrosamento das duas nesse contexto resulta, em parte, de afinidades que têm. Rihanna também soma ao grupo dos atentos a políticas pouco inclusivas que repercutem negativamente sobre a vida de imigrantes. Ela, que não hesita em se manifestar publicamente sobre o assunto, também responde por uma fundação comprometida com o respeito aos direitos humanos. A Clara Lionel Foundation mantém iniciativas no campo educacional em países como Barbados, Senegal e Malawi, além de oferecer bolsas de estudos para jovens aprovados em seleções de universidades dos Estados Unidos.

Rihanna também tem características em comum com Calypso Rose, que interpreta com Manu Chao uma das mais recentes versões de “Clandestino”. Ambas são caribenhas e vivem nos Estados Unidos. Agora Rose trabalha a partir da América do Norte pela divulgação internacional do calypso ao mesmo tempo em que sente a vida na diáspora repercutir sobre o seu trabalho.

Em 2016, por exemplo, Rose lançou um álbum chamado “Far from home” (“Longe de casa”), que conta com a participação de Chao e que recebeu o prêmio Victoire de la musique, o Grammy francês, em 2017. Quando questionada a respeito, respondeu: “Diante de ‘Far from home’, estou muito mais animada com o que alcancei. É um álbum que quase ganhou um disco de platina. – Graças a ele, tive a oportunidade de cantar para pessoas de muitos lugares. Isto é o que pretendi expressar com seu título: estou longe de casa, voando, de um show para outro, Espanha, Alemanha, Nova Iorque, entretanto, estou em conexão com os outros, musicalmente, e isso é importante para uma pessoa do Caribe. Este é um álbum caribenho importante em termos de capacidade de alcance de uma grande audiência.”

Na mesma ocasião, quando instada a escolher uma música de seu repertório que trata de sua terra, de seu lar, a sua favorita, Rose mencionou “O, Tobago”, que exalta a beleza da ilha em que nasceu e onde viveu até os nove anos, época em que se mudou para Trinidad. Se é certo o seu carinho por Tobago, inigualável é o papel que teve Trinidad em sua vida: foi aí que ela conheceu as melodias do calypso e aprendeu a dançá-lo, dando, assim, os primeiros passos para a instauração de um reinado em um campo até então dominado pelos homens.

Que Calypso Rose, Manu Chao, Rihanna e Shakira possam continuar sendo referências na luta pela emancipação de pessoas em situações de vulnerabilidade!

De nossa parte, torcemos para que este texto torne visível para os que acompanham o Leituras dos Girassóis que quanto mais oportunidade migrantes tiverem para exercer suas potencialidades em territórios diferentes daqueles em que nasceram, mais intensas serão nossas trocas culturais e, portanto, mais multifacetadas e enriquecidas se tornarão nossas sociedades.

Que possamos então nos comunicar bem e nos abrir mais uns com os outros para que as próximas lágrimas que vierem a surgir no horizonte sejam indício de entendimento mútuo e de satisfação com as interações que estivermos engendrando!


Yo no creo en una gran revolución que va a cambiar las cosas, me parece muy utópico. Creo en miles y miles de revoluciones de barrio, juntándose unas a otras se hará la diferencia […] porque puede llegar a cambiar las cosas desde uno mismo, desde su família. – Manu Chao.

Emanuel Melo entre viver, escrever e pertencer

Emanuel Melo é um escritor nascido nos Açores, região insular de Portugal onde passou sua infância. Na sequência, emigrou para o Canadá, estabelecendo-se em Toronto. Daí o título de seu blogue – The Torontonian Azorean writer” que, à primeira vista, indica como o escritor percebe suas raízes geoculturais.

Nesta quinzena, aproveitaremos a oportunidade para fazer referência a quatro textos seus: “Being Through Words” (2018) e “Exile” (2016), publicados em seu blogue, “The New Wave of Luso-Canadians” (2017), publicado na imprensa, e “The Weekly Visit” (2014), conto publicado em uma revista literária.

Foto tirada por Fernanda Sousa (2016)

Em “Being Through Words”, Emanuel trata da disputa linguística que o habita e de seu desejo de fazer reviver em si mesmo a língua portuguesa, com a propriedade com que maneja a língua inglesa, íntima depois de décadas de convívio diário. Ele tece considerações sobre como elabora seus textos, assinalando o entremear de fios da língua portuguesa em textos construídos em língua inglesa como uma de suas características. E de modo sucinto, alude ao significado da memória para o imigrante, ao papel da tradução, além de procurar atribuir um sentido à ideia de pertencer.

Em “Exile”, Emanuel se revela investido em uma jornada por meio da qual pretende encontrar seu lar por meio da linguagem. E se confessa um escritor leitor que elege referenciais dentre seus pares, como Jhumpa Lahiri, de quem admira a “habilidade de articular sentimentos sobre linguagem e pertencimento”. São referenciais por meio dos quais valida, em algum grau, sua própria trajetória, aquilatando seu projeto literário e refletindo sobre suas experiências, a que dizem respeito a questão identitária, a questão linguística e, no plano artístico, o acabamento estético. Nesses textos, o escritor também faz referência às escritoras Avelina da Silveira e May Sarton.

Já no texto “The New Wave of Luso-Canadians”, Emanuel vai à sociedade que lhe circunda para retomar questões que lhe são caras. Trata-se de pensar o português em interação com a sociedade canadense. Para tanto, alude a imigrantes portugueses de duas épocas e a um Canadá que alterou sensivelmente, ao longo dos anos, os critérios por meio dos quais seleciona os estrangeiros que poderão habitá-lo. Nesse texto, indiretamente, o escritor dá visibilidade às maneiras por meio das quais podemos dar forma a um conceito: aqui devemos pensar no processo de corporificação de uma identidade nacional. Em síntese, somos convidados a considerar que “assim ou assado” pode-se ser português, algo que felizmente destoa das interpretações que buscam uma essência uniforme para aquilo que se quer nacional ou de uma mesma etnia, sempre se excluindo, quando não se esmagando, a diversidade e o que ela tem de potência nesses processos rotuladores.

Finalmente, o conto “The Weekly Visit”, narrado em terceira pessoa, nos põe em contato com personagens de uma mesma família: um homem e sua mãe viúva, ambos portugueses e há anos residentes no Canadá. A falta de sintonia ou a indisponibilidade emocional do filho para com a mãe bem como a postura vitimista dela ocupam o primeiro plano da narrativa. E motivos importantes são suscitados pelo texto, como a velhice, o (des)afeto e a solidariedade. Alguns deles são primordiais para migrantes, como a manutenção da identidade originária por meio dos hábitos alimentares e o convívio com línguas diferentes e os desafios advindos.

Aqueles que se sentem motivados a pensar sobre implicações culturais (e até políticas) do migrar e sobre o sentido de pertencer – a países, culturas, línguas e pessoas – terão suas reflexões nutridas pelas ideias disseminadas por esses textos de Emanuel. E enquanto não contamos com traduções suas, em particular os lusófonos que ousarem transpor uma língua outra perscrutarão um mundo com elementos que ressoarão em suas vidas, de forma mais ou menos explícita.

Clarice Lispector e a busca por pertencer

Clarice Lispector é uma escritora que reivindicou o Brasil como sua terra natal apesar de ter nascido na Ucrânia. Fato é que a escritora chegou ao país bem novinha, com a família, que fugia de uma guerra civil e da perseguição a judeus que sucederam à Revolução Bolchevique de 1917.

A família Lispector chegou à cidade alagoana de Maceió, onde viveu por alguns anos, em contato com parentes, até se mudar para Pernambuco. Mãe, pai e filhas se estabeleceram em Recife, onde permaneceram por um período maior, convivendo, então, com familiares e também com a comunidade judaica local. Nesse período, a escritora cuidou de sistematizar conhecimentos sobre línguas como o português, o iídiche, o hebraico, o inglês e o francês. Isto depois de ter seu nome alterado de Haia para Clarice, por decisão de seu pai.

Com o Recife no coração, a futura escritora se mudou com a família para o Rio de Janeiro, onde cursou Direito e iniciou uma carreira no jornalismo. Mas a então capital brasileira não abrigaria, ainda, seu último pouso. Porque veio a se casar com um diplomata, Clarice se viu envolvida com vários outros territórios, de forma mais ou menos desejada. Acabou vivendo em países como a Itália, a Inglaterra, a Suíça e os Estados Unidos, até voltar a viver no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, onde passou seus últimos dias.

Os interessados na biografia da escritora, tirarão proveito desta linha do tempo e desta fotobiografia, em que nos amparamos para traçar o percurso da escritora. Neste momento, porém, gostaríamos de chamar a atenção para dois textos de Clarice que tratam da questão do pertencimento. O primeiro é uma crônica que ela publicou em 1968 no Jornal do Brasil; o segundo, ainda mais pessoal, consiste em uma carta que a escritora escreveu para o presidente do Brasil enquanto tramitava seu processo de naturalização. Os textos falam por si mesmos. Acompanhe-os a seguir:

Pertencer

Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.

Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.

Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.

Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim.

Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso. Quem sabe se comecei a escrever tão cedo na vida porque, escrevendo, pelo menos eu pertencia um pouco a mim mesma. O que é um fac-símile triste.

Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de “solidão de não pertencer” começou a me invadir como heras num muro.

Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso o que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertencesse. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos – e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.

Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte.

Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força – eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.

Embora eu tenha uma alegria: pertenço, por exemplo, a meu país, e como milhões de outras pessoas sou a ele tão pertencente a ponto de ser brasileira. E eu que, muito sinceramente, jamais desejei ou desejaria a popularidade – sou individualista demais para que pudesse suportar a invasão de que uma pessoa popular é vítima -, eu, que não quero a popularidade, sinto-me no entanto feliz de pertencer à literatura brasileira. Não, não é por orgulho, nem por ambição. Sou feliz de pertencer à literatura brasileira por motivos que nada têm a ver com literatura, pois nem ao menos sou uma literata ou uma intelectual. Feliz apenas por “fazer parte”.

Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.

No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança. Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.

A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho.

Esta crônica faz parte do livro A descoberta do mundo, publicado pela editora Rocco.


Rio de Janeiro, 3 de junho de 1942

Senhor presidente Getúlio Vargas,

Quem lhe escreve é uma jornalista, ex-redatora da Agência Na­cional (Departamento de Imprensa e Propaganda), atualmente n’A Noite, acadêmica da Faculdade Nacional de Direito e, casual­mente, russa também.

Uma russa de 21 anos de idade e que está no Brasil há 21 anos menos alguns meses. Que não conhece uma só palavra de russo mas que pensa, fala, escreve e age em português, fazendo disso sua profissão e nisso pousando todos os projetos do seu futuro, próximo ou longínquo. Que não tem pai nem mãe – o primeiro, assim como as irmãs da signatária, brasileiro naturalizado – e que por isso não se sente de modo algum presa ao país de onde veio, nem sequer por ouvir relatos sobre ele. Que deseja casar-se com brasileiro e ter filhos brasileiros. Que, se fosse obrigada a voltar à Rússia, lá se sentiria irremediavelmente estrangeira, sem amigos, sem profissão, sem esperanças.

Senhor presidente. Não pretendo afirmar que tenho prestado grandes serviços à Nação – requisito que poderia alegar para ter di­reito de pedir a vossa excelência a dispensa de um ano de prazo, necessário a minha naturalização. Sou jovem e, salvo em ato de heroísmo, não poderia ter servido ao Brasil senão fragilmente. Demonstrei minha ligação com esta terra e meu desejo de servi-la, cooperan­do com o DIP, por meio de reportagens e artigos, distribuídos aos jornais do Rio e dos Estados, na divulgação e na propaganda do governo de vossa excelência. E, de um modo geral, trabalhando na impren­sa diária, o grande elemento de aproximação entre governo e povo.

Como jornalista, tomei parte em comemorações das grandes datas nacionais, participei da inauguração de inúmeras obras ini­ciadas por vossa excelência, e estive mesmo ao lado de vossa excelência mais de uma vez, sendo que a última em lº de maio de 1941, Dia do Trabalho.

Se trago a vossa excelência o resumo dos meus trabalhos jornalísticos não é para pedir-lhe, como recompensa, o direito de ser brasileira. Prestei esses serviços espontânea e naturalmente, e nem poderia deixar de executá-los. Se neles falo é para atestar que já sou bra­sileira.

Posso apresentar provas materiais de tudo o que afirmo. In­felizmente, o que não posso provar materialmente – e que, no entanto, é o que mais importa – é que tudo que fiz tinha como núcleo minha real união com o país e que não possuo, nem elege­ria, outra pátria senão o Brasil.

Senhor presidente. Tomo a liberdade de solicitar a vossa excelência a dispensa do prazo de um ano, que se deve seguir ao processo que atualmente transita pelo Ministério da Justiça, com todos os re­quisitos satisfeitos. Poderei trabalhar, formar-me, fazer os indis­pensáveis projetos para o futuro, com segurança e estabilidade. A assinatura de vossa excelência tornará de direito uma situação de fato. Creia-me, senhor presidente, ela alargará minha vida. E um dia saberei provar que não a usei inutilmente.

Clarice Lispector

Carta disponível aqui (acesso em 15/06/2019) e no livro Correspondências, publicado pela editora Rocco.


“Se eu tivesse que dar um título à minha vida seria: à procura da própria coisa.”

Quer mais de Clarice? Veja:


Está de passagem? Lembre-se que o Leituras dos girassóis já tem a programação de 2019 definida. Acompanhe e divulgue!

E aqui veja outras formas de oferecer a sua contribuição para este projeto.

Daniel Munduruku + São Paulo = ancestralidade e literatura

Daniel Munduruku é um escritor brasileiro pertencente à etnia indígena munduruku. Nascido no Pará, fez os cursos de mestrado e de doutorado na cidade de São Paulo, cidade que pretendeu homenagear, em 2017, quando ela completava 463 anos. Na ocasião, Daniel se filmou lendo o prefácio de seu livro “Crônicas de São Paulo: Um olhar indígena”, publicado pela editora Callis, em 2004. Nesta publicação, o escritor trata de alguns bairros da cidade que possuem nomes indígenas, regiões por onde já perambulou e das quais se aproximou mais via pesquisa. Nesse processo, Daniel aproveitou para refletir sobre seu próprio lugar em São Paulo ao mesmo tempo em que procurou estar em sintonia com ancestrais paulistanos.

Cristina Bailey e Regina Zilberman, entrevistando Daniel em 2010, partem de uma referência a “Crônicas de São Paulo […]” para perguntar a ele “de que modo ‘um olhar indígena’ sobre a realidade difere de um olhar ‘negro’ ou [de] um olhar ‘branco’?” A entrevista merece ser lida por todos que desejarem se familiarizar, ainda que de forma sucinta, com o modo como o escritor percebia a si e a elementos da sociedade brasileira na época. Os interessados em questões migratórias se atentarão, por exemplo, a sua menção a Eliane Potiguara, a quem reconhece “pela coragem que sempre teve ao escrever sobre a diáspora indígena, sobretudo dos indígenas nordestinos”. (Para outras indicações de textos produzidos por ou sobre indígenas, parece viável recorrer à seleção feita por Janice Cristine Thiél a pedido da Carta Educação.)


Abaixo, seguem dois textos de Munduruku, uma crônica do livro “Crônicas de São Paulo: Um olhar indígena”, por meio do qual a cidade de São Paulo é lida por alguém que passa a habitá-la, no processo estabelecendo conexões, identificando similaridades e diferenças, quiçá, complementaridades. E, na sequência, um texto publicado no blogue do escritor, em que ele lida com as ideias de pertencimento e de identidade e nos indica as expressões mais adequadas para fazermos referência aos originários do Brasil.

Desejamos a todos uma boa leitura! E não se esqueçam de compartilhar este post com os amigos, de perto ou de longe!

Tatuapé – o caminho do tatu

Uma das mais intrigantes invenções humanas é o metrô. Não digo que seja intrigante para o homem comum, acostumado com os avanços tecnológicos. Penso no homem da floresta, acostumado com o silêncio da mata, com o canto dos pássaros ou com a paciência constante do rio que segue seu fluxo rumo ao mar. Penso nos povos da floresta.

Os índios sempre ficam encantados com a agilidade do grande tatu metálico. Lembro de mim mesmo quando cheguei a São Paulo. Ficava muito tempo atrás desse tatu, apenas para observar o caminho que ele fazia.

O tatu da floresta tem uma característica muito interessante: ele corre para sua toca quando se vê acuado pelos seus predadores. É uma forma de escapar ao ataque deles. Mas isso é o instinto de sobrevivência. Quem vive na mata sabe bem lá dentro de si, que não se pode permitir andar desatento, pois corre um sério perigo de não ter amanhã.

O tatu metálico da cidade não tem este medo. É ele que faz o seu caminho, mostra a direção, rasga os trilhos como quem desbrava. É ele que segue levando pessoas para os seus destinos. Alguns sofrem com a sua chegada, outros sofrem com sua partida.

Voltei a pensar no tatu da floresta, que desconhece o próprio destino, mas sabe aonde quer chegar. Pensei também no tempo de antigamente, quando o Tatuapé era um lugar de caça ao tatu. Índios caçadores entravam em sua mata apenas para saber onde estavam as pegadas do animal. Depois eles ficavam à espreita daquele parente, aguardando pacientemente sua manifestação. Nessa hora – quando o tatu saía da toca – eles o pegavam e faziam um suculento assado que iria alimentar os famintos caçadores.

Voltei a pensar no tatu da cidade, que não pode servir de alimento, mas é usando como transporte para a maioria das pessoas poder encontrar seu próprio alimento. Andando no metrô que seguia rumo ao Tatuapé, fiquei mirando os prédios que ele cortava como se fossem árvores gigantes de concreto. Naquele itinerário eu ia buscando algum resquício das antigas civilizações que habitaram aquele vale. Encontrei apenas urubus que sobrevoavam o trem que, por sua vez, cortava o coração da Mãe Terra como uma lâmina afiada. Vi pombos e pombas voando livremente entre as estações. Vi um gavião que voava indiferente por entre os prédios. Não vi nenhum tatu e isso me fez sentir saudades de um tempo em que a natureza imperava nesse pedaço de São Paulo habitado por índios Puris. Senti saudade de um ontem impossível de se tornar hoje novamente.

Pensando nisso deixei o trem me levar entre Itaquera e o Anhangabaú. Precisava levar minha alma ao princípio de tudo.

A crônica em questão foi divulgada nos sites de Ailton Krenak e de Margarida Caetano.


Usando a palavra certa pra doutor não reclamar

Na reflexão anterior falei sobre os equívocos que cercam a palavra índio. Fiz uma provocação e tenho certeza que muitas pessoas, especialmente professores, ficaram com a “pulga atrás da orelha”. Se assim aconteceu, alcancei meu objetivo. A inquietação é já um princípio de mudança. Ficar incomodado com os saberes engessados em nossa mente ao longo dos séculos é uma atitude sábia de quem se percebe parte do todo.

É sabido que esta palavra tem, às vezes, um quê de inocência em quem a usa. Tem quem a utiliza conscientemente também. Sabe que se trata de uma atitude política e fica mais fácil para os interlocutores entenderem do que estão falando. Aliás, esta palavra foi devidamente utilizada pelo movimento indígena no início dos anos 1970. Foi uma forma de mostrar consciência étnica. Antes disso não havia uma consciência pan-indígena por parte dos povos nativos. Eram grupos isolados em suas demandas políticas e sociais. Cada grupo lutava por suas próprias necessidades de sobrevivência. Somente depois que começaram a encontrar os outros grupos durante as famosas assembléias indígenas – patrocinadas pela Igreja católica, através do recém criado Conselho Indigenista Missionário – CIMI – é que as lideranças passaram a ter clareza de que se tratavam de problemas comuns a todos os grupos. A partir disso o termo índio passou a ter uma ressignificação política interessante. Notem, no entanto, que foi um termo usado na relação política com o estado brasileiro. Cada grupo continuou a se chamar pela própria denominação tradicional. Isso não significou abrir mão do jeito próprio de se chamar. Quando muito, chamavam para (sic.) os outros grupos ou pessoas indígenas utilizando o termo parente.

Aqui caberia outra reflexão que deverá vir brevemente. No entanto, devo deixar claro que o termo parente é usado pelos indígenas para todos os seres (vivos ou não-vivos). Chamar alguém de parente é colocá-lo numa rede de relações que se confunde com a própria compreensão cosmológica ancestral. Mesmo na língua portuguesa podemos observar que se trata de uma palavra que une concepções (par+ente) que denota um envolvimento que permite compreendermos que dois ou mais seres se juntam numa rede consangüínea. Do ponto de vista indígena isso vai além da consaguinidade e se insere numa cosmologia cuja crença coloca todos os seres (entes) numa teia de relações. Somente neste contexto é possível compreender a intrínseca relação dos indígenas com a natureza. Isso é, no entanto, assunto para outra conversa.

Até aqui tenho usado outra palavra para referir-me aos povos ancestrais. Ora eu uso nativo, ora indígena. Qual seria a certa? Ambas estão correta (sic.) para referir-se a uma pessoa pertencente ao um
(sic.) povo ancestral. Por incrível que possa parecer não há relação direta entre as palavras índio e indígena, embora o senso comum tenha sempre nos levado a crer nisso. Basta um olhadela (sic.) num bom dicionário que logo se perceberá que há variações em uma e noutra palavra. No duro mesmo os dicionários têm alguma dificuldade em definir com precisão o que seria o termo índio. Quando muito dizem que é como foram chamados os primeiros habitantes do Brasil. Isso, no entanto, não é uma definição é um apelido e apelido é o que se dá para quem parece ser diferente de nós ou ter alguma deficiência que achamos que não temos. Por este caminho veremos que não há conceitos relativo (sic.) ao termo índio, apenas preconceito: selvagem, atrasado, preguiçoso, canibal, estorvo, bugre são alguns deles. E foram estas visões equivocadas que chegaram aos nossos dias com a força da palavra.

Por outro lado o termo indígena significa “aquele que pertence ao lugar”, “originário”, “original do lugar”. Se pode notar, assim, que é muito mais interessante reportar-se a alguém que vem de um povo ancestral pelo termo indígena que índio (sic.). Neste sentido eu sou um indígena Munduruku e com isso quero afirmar meu pertencimento a uma tradição específica com todo o lado positivo e o negativo que essa tradição carrega e deixar claro que a generalização é uma forma grotesca de chamar alguém, pois empobrece a experiência de humanidade que o grupo fez e faz. É desqualificar o modus vivendis dos povos indígenas e isso não é justo e saudável.

Outra palavrinha traiçoeira e corriqueiramente usada para identificar os povos indígenas é tribo. É comum as pessoas me abordarem com a pergunta: qual é sua tribo? Normalmente fico sem jeito e acabo respondendo da maneira tradicional sem muita explicação. Sei que é um conceito entrevado na mente das pessoas e que só vai sair mediante muita explicação por muito tempo.

Afinal, o que tem de errado com a palavra? A antiga ideia de que nossos povos são dependentes de um Povo maior. A palavra tribo está inserida na compreensão de que somos pequenos grupos incapazes de viver sem a intervenção do estado. Ser tribo é estar sob o domínio de um senhor ao qual se deve reverenciar. Observem que essa é a lógica colonial, a lógica do poder, a lógica da dominação. É, portanto, um tratamento jocoso para tão gloriosos povos que deveriam ser tratados com status de nações uma vez que têm autonomia suficiente para viver de forma independente do estado brasileiro. É claro que não é isso que se deseja, mas seria fundamental que ao menos fossem tratados com garbo.

Se não pode chamá-los de tribo, como chamá-los? Povo. É assim que se deveria tratá-los. Um povo tem como característica sua independência política, religiosa, econômica e cultural. Nossa gente indígena tem isso de sobra e ainda que estejamos vivendo “à beira do abismo” trazido pelo contato, podemos afirmar com convicção que somos povos íntegros em sua composição e queremos estar a serviço do Brasil.

Uma última palavra: são os “índios”, brasileiros? Que tal desentortar o pensamento e inverter a pergunta: serão os brasileiros, “índios”? Será que a ordem dos fatores irá alterar o produto? Não saberia dizer, mas o que observo é que há um abismo entre o ser e o não-ser ou entre o não-ser e o ser. Nesse duelo, os indígenas têm levado a pior.

Texto nº 3 (três) da série Mundurukando.

Observações: 1) Trechos em itálico, grifos de Daniel Munduruku; trechos em negrito, grifos nossos. 2) Transcrevemos o artigo da forma como foi publicado no blogue do escritor.


Cabeçalho do blogue do escritor